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Como o corpo desaprende a dor — e pode reaprender a se sentir seguro...

  • Foto do escritor: Patricia Cordeiro
    Patricia Cordeiro
  • 9 de out.
  • 2 min de leitura
imagem do wix pedras na areia

A dor é uma experiência universal e profunda. Todos os seres humanos, em alguma medida, já a conheceram. Em geral, acreditamos que quanto mais intensa a dor, maior sua capacidade de nos transformar — e, de fato, ela pode nos modificar profundamente.


Sentir dor diante de um estímulo que ameaça a integridade do corpo é essencial para a sobrevivência. Diante de algo quente, cortante ou elétrico, reagimos de forma automática, afastando-nos do perigo. Mas o que dizer da dor psíquica — aquela que é sentida, mas nem sempre compreendida — e que, muitas vezes, nos faz permanecer junto ao que nos fere, em vez de nos afastarmos?

Por isso, acredito que a experiencia dolorosa é muito mais complexa, toda dor precisa de escuta, precisa ser ampliada e compreendida. Afinal, o que a dor quer nos revelar?

Na antiga visão médica, a intensidade da dor era proporcional à agressão tecidual. Hoje sabemos que não é assim. Em muitos casos de dor crônica, não há sinal de lesão. O que existe é um sistema nervoso que aprendeu a sentir dor.


O corpo produz endorfinas — analgésicos naturais que nos protegem —, mas o que determina se ele produzirá mais ou menos dessas substâncias? Por que algumas pessoas se tornam mais suscetíveis à dor do que outras?

 

Durante períodos prolongados de tensão, trauma ou sofrimento físico e emocional, o cérebro e o corpo passam por um processo chamado neuroplasticidade — a capacidade de mudar e se adaptar. Quando essa adaptação se desregula, o corpo aprende a manter o estado alerta ligado, mesmo quando o perigo já passou. O que antes era proteção se transforma em fonte de sofrimento.


Com o tempo, os neurônios envolvidos na dor tornam-se mais sensíveis, e o sistema nervoso interpreta estímulos neutros como ameaça. É a sensibilização central: o alarme da dor permanece ligado.


Alguns medicamentos podem “baixar o volume” desse alarme, reduzindo o estado de hipervigilância, dor e ansiedade. Eles possibilitam que haja um espaço para o sistema nervoso se reorganizar e reduzir o alerta. Entretanto, o verdadeiro aprendizado vem quando o corpo volta a se sentir seguro por dentro.


Para isso, a integração entre corpo e mente se torna essencial. Do ponto de vista do corpo (soma), as práticas de consciência corporal — através de movimentos suaves, toque consciente, respiração atenta e escuta das sensações — enviam mensagens de segurança ao cérebro. Essas experiências reeducam as vias neurais ligadas à dor, substituindo padrões de tensão e defesa por padrões de presença e regulação.


Entretanto, paralelamente, o trabalho psíquico é indispensável: compreender simbolicamente a dor, reconhecer a história que ela carrega e perceber a profundidade com que atravessa a vida. Somente assim é possível dar novos significados ao que manteve o corpo em alerta. Com autocompaixão, a dor se transforma em compreensão — e corpo e psique reencontram juntos o caminho da segurança.


Desaprender a dor é um processo de reconexão. Quando o corpo e a psique são ouvidos com respeito, eles nos conduzem, com delicadeza, de volta ao lugar interno onde podemos simplesmente estar — inteiros, presentes e em paz.



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